segunda-feira, 13 de novembro de 2017

UM LUGAR POR AÍ (101)


MARTINS FONTES - AV. PAULISTA 509

Tem quem prefira a Livraria Cultura. Eu não. Lá tem muita gente a se exibir e sou mais recatado, gosto de ler de verdade. A cara lá é prócer do PSDB, o Pedro Herz e está tomando conta de tudo no pedaço, tanto ter ouvido que acaba de adquirir a FNAC paulistana. Eu nunca gostei de quem quer ser dono de tudo, preferindo lugares mais amenos e menos cheios, portanto, com um charme mais livresco. Até fui na Livraria Cultura, mas fiquei só no sambalirove, subi e desci a rampa, logo sai, fiz o mesmo na FNA e fui me arranchar na Martins Fontes, ali no número 509.

Trata-se de uma perdição no exato sentido da palavra. Como sabem, estou por Sampa para ser o acompanhante de minha estimada sogra, esperando o seu plano de saúde aprovar o procedimento da troca de uma válvula para seu combalido coração. Dona Darcy Soliva da Costa é a sogra que pedi aos céus. Sempre tive sorte com sogras, três maravilhosas e está, por ser a última, afirmo ser a melhor. Lê muito, assim como eu e é um doce de pessoa. Fico de muito bom grado no hospital ao seu lado e pelo tempo que se fizer necessário. Ganho com isso, pela troca divinal de conversações. Hoje vieram duas visitas, amigas de longa data e elas me liberaram para dar uma volta. Vim voando pra Martins Fontes.

Não fui em outro lugar. Fiquei duas horas ali dentro e vasculhei tudo, de cabo a rabo, uma delícia, dessas de melecar a cueca, ou seja, gozar nas calças. Sim, livro me faz gozar nas calças. E o faço fartamente, em abundância quando diante de livros. O que mais gosto num lugar desses? Livros, claro. Tem mais. Ninguém me abordou pra nada no tempo todo em que ali permaneci. Nenhum vendedor veio dizer se estava precisando de alguma coisa. Nada, me deixaram em paz e foi ótimo. Tirei fotos a dedéu e ninguém me importunou. Isso não acontece em Bauru, onde mesmo na Jalovi, com alguma tradição no ramo, basta te verem olhando as prateleiras, tem logo um vendedor do seu lado perguntando o que quero. Prefiro quando quiser me dirigir a eles e em Sampa isso é praxe.

Se existe um paraíso neste Brasil insano de hoje ele está dentro do que ainda nos resta de livrarias. Tem muita publicação que não vale nada dentro de todas elas, mas tem coisa muito boa e pra todos os gostos. Eu esqueço da vida dentro de um lugar desses e se deixarem fecho a loja, ou melhor, sou colocado para fora. O tempo que passei lá dentro foi para mim mais do que revitalizante e recarregante.
Só não foi melhor porque, tenho certeza, a sogra adoraria estar comigo (o filhão também, pensei muito nele quando lá dentro), mas não tinha como, pois está atrelada a um quarto de hospital e aguardando sua válvula, que lhe dará uma bela sobrevida, para alegria de todos ao seu redor. No hospital eu leio para ela e ela lê para mim. trocamos figurinhas e assim o tempo passa, o tempo voa e eu e ela nos divertimos com nossa situação.

Ficaria aqui escrevendo a noite toda sobre livros, minha sogra, histórias da Martins Fontes e de tantas outras (a Folha Seca do Rio de Janeiro é outra) e se escrevo isso tudo neste exato momento, o faço para espairecer, pois confesso, tem saído ultimamente muita fumaça de minha envelhecida cabeça. Ando acabrunhado com tudo o que estão fazendo com esse até bem pouco tempo altaneiro país e de vez em quando dou minha fugidas, bato em retirada e vou pra essas ilhas, espécie também de oásis no meio dessa merda toda a nos envolver. Ainda bem que lugares como a Martins Fontes resistem ao tempo e nos alegram nesses momentos de angústia.

Não vivo sem lugares como esse.

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