terça-feira, 14 de novembro de 2017

DIÁRIO DE CUBA (91)


SERIA CUBA? NÃO. É A PAULISTANA “BOCA DO LIXO” - SEMELHANÇAS

Até hoje ainda existe uma turba insistindo em espezinhar a ilha mais charmosa do planeta, lugar considerado hoje como o verdadeiro paraíso terrestre, país com o maior índice de tranquilidade para se ter uma vida sem sobressaltos, desacertos e desarranjos corporais. Todos que por lá passaram atestam o que escrevo a seguir: o melhor lugar para se viver hoje é Cuba. Dizem que igual a ela, talvez a Islândia. Mesmo com todos esses predicados a favor, incontáveis por sinal, um dos motivos pelos quais a tal turba de inconsequentes (esses nunca por lá estiveram) faz questão de criticar a ilha, primeiro, é claro, por causa de lá ainda perdurar um regime de cunho comunista. O capitalista é tão influenciado por tudo que lhe dizem, que acaba acreditando no que lhe apregoa as máximas capitalistas, a de que lá é o verdadeiro inferno e aqui, a balbúrdia capitalista, com toda instabilidade junta é o paraíso. Acredita nisso quem desconhece o que seja Cuba, faz vista grossa para tudo o que está aí prontinho para ser averiguado, mas finge não ser possível e continua acreditando nas mentiras que lhe são passadas, principalmente via mídia massiva. Viver na simplicidade cubana, tendo uma real possibilidade de felicidade, mesmo sendo pobre, porém com tudo ali para desfrutar. Saúde, cultura, transporte, educação, lazer e tudo mais gratuito ou com preços irrisórios. Isto é Cuba, mas para pegar no pé do pequeno país, nada como espalhar fotos de casas mal acabadas, prédios com cores descascadas e aí por diante.

Daí, saí hoje pelas ruas centrais de Cuba e aqui publico as fotos. Epa!, mas as fotos não são de Cuba e sim da região central da capital paulistana, a cidade mais rica deste Brasil. Sim, sou obrigado a confessar meu crime, eu aproveitei uma folguinha no que faço aqui pela capital paulistana e fui dar um rápido passeio pelo quadrilátero onde antes vicejou algo muito do interessante na história de São Paulo, a sempre lembrada “Boca do Lixo”. Entre a Estação da Luz, o antigo terminal rodoviário (aquele das placas coloridas no teto), a avenida São João, avenida Ipiranga, rua Santa Efigênia (a do som e luzes), indo até as beiradas da praça da República, eis o espaço mais ou menos demarcado. Ali vicejaram de tudo nos anos 60/70 e parte dos 80. O cinema que fluía naquele espaço é comentado até hoje, não só como cult, mas irreverente, independente e impossível. Naquele pedaço, recheado de construções antigas, prédios mal ajambrados, até hoje reside uma população simples, os que não conseguem se instalar em lugares mais bastados e fazem do lugar, um recanto alegre e irreverente dentro da loucura paulistana.

Assim como Cuba, vejo mesmo na dificuldade estampada na fisionomia de muitos por lá, uma alegria não existente em lugares abastados da capital paulista. O que não se vê em Cuba são as pessoas largadas pelas ruas, drogadas e dormindo debaixo de marquises. Outro dia, um parente de minha sogra, aqui em São Paulo, confidenciou algo numa conversa aqui no hospital onde me encontro: “Quando quero buscar algo alegre, um baile, uma festa, um bar, vou pra periferia ou lugar onde tenha povão, do contrário, fico deslocada, triste. Onde tem povão tem alegria e isso não existe na Zona rica desta cidade grande”. Sei disto e comprovei andando hoje pela Boca do Lixo. Alguns me disseram para ter cuidado, inclusive com fotos e com os bolsos. Não tive nenhum percalço, como não teria, tenho absoluta certeza em Cuba. Aliás, Cuba é hoje um dos países mais seguros do planeta. Sei que toda comparação que possa tentar fazer é simplista, mas me encantou hoje circular pelas ruas simples, sujas, olhar para os prédios e tentar buscar algo de semelhança com Cuba. Viajei nas imagens que produzi.

Encerro com um algo mais. Os prédios descascados e sem aquela pintura reluzindo a nova não é algo somente encontrado em Cuba, daí muito injusta mostrarem aquelas fotos das ruas de Havana, como se aquilo só ocorresse por lá. Aqui onde me encontro, em Sampa, tem muitos lugares piores que os da divulgação negativista feita com os cubanos. Não só aqui, mas em tudo quanto é lugar, inclusive no coração norte-americano. Lugares com idêntica semelhança existem também em Washington e Nova York, mas não são divulgadas com o mesmo estardalhaço. Mas Cuba é Cuba, é comunista e daí, dá-lhe pau, críticas e cacetadas. Não quero provocar nada além de um leve toque, uma lembrança de que aquilo visto em Cuba existe em muita maior escala em qualquer país capitalista predatório, principalmente os com a prática neoliberal. A diferença é nítida e precisa ser ressaltada. Cuba é pobre, porém digna, gasta seu suado dinheirinho no bem estar do seu cidadão e nos demais rincões, o contrário, pobre que se lasque, mora mal, come mal, se locomove mal, mal tem lazer e assim por diante. Fiquemos com as fotos e façam o mesmo que eu, perambule por lugares idênticos aos da Boca do Lixo. Fui, vi, circulei, gostei e recomendo. Fiz até amizades em conversas com gente que me vendo fotografar já puxaram conversa.

Que acharam?

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